sexta-feira, 16 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Os fantasmas
Os fantasmas
Esta coisa de escrever crónicas “é um jogo permanente entre o estilo e a
substância”. Uma luta entre “o deboche estilístico” do gozo da escrita e “a frieza
analítica” do pensamento do cronista. Por isso, enquanto cidadão, só posso ver
este governo como uma verdadeira praga bíblica que caiu sobre um povo que o
não merecia. Mas, enquanto cronista, encaro‐ o como uma dádiva dos céus, um
maná dos deuses, “um harém de metáforas”, uma verdadeira girândola de
piruetas estilísticas.
Tomemos como exemplo o ministro Gaspar. Licenciado e doutorado em
Economia, fez parte da carreira em Bruxelas onde foi director do Departamento
de Estudos do BCE. Por cá, passou pelo Banco de Portugal, foi chefe de gabinete
de Miguel Beleza e colaborador de Braga de Macedo. É o actual ministro das
Finanças. Pois bem. O cronista olha para este “talento” e que vê nele? Um
retardado mental? Uma rábula com olheiras? Um pantomineiro idiota? Não me
compete, enquanto cidadão, dar a resposta. Mas não posso deixar de referir a
reacção ministerial à manifestação de 15 de Setembro que, repito, adjectivava os
governantes onde se inclui o soporífero Gaspar, como “gatunos, mafiosos,
carteiristas, chulos, chupistas, vigaristas, filhos da puta”. Pois bem. Gaspar
afirmou na Assembleia da República que o povo português, este mesmo povo
português que assim se referia ao seu governo, “revelou‐se o melhor povo do
mundo e o melhor activo de Portugal”! Assumpção autocrítica de alguém que
também é capaz de, lucidamente, se entender, por exemplo, como um “chulo” do
país? Incapacidade congénita de interpretar o designativo metafórico de “filhos
da puta”? Não me parece. Parece‐ me sim um exercício de cinismo, sarcástico e
obsceno, de quem se está simplesmente “a cagar” para o povo que protesta.
A ser
assim, julgo como perfeitamente adequado repetir aqui uma passagem de um
texto em forma de requerimento “poético” de 1934. Assim: “A Nação confiou‐
lhe os seus destinos?... / Então, comprima, aperte os intestinos. / Se lhe escapar
um traque, não se importe… / Quem sabe se o cheirá‐ lo nos dá sorte? / Quantos
porão as suas esperanças / Num traque do ministro das Finanças?... / E quem
viver aflito, sem recursos / Já não distingue os traques dos discursos.”
Provavelmente o sr. ministro desconhecerá a história daquele gajo que era tão
feio, tão feio, que os gases andavam sempre num vaivém constante para cima e
para baixo, sem saber se sair pela boca se pelo ânus, dado que os dois orifícios
esteticamente se confundiam. Pois bem. O sr. ministro é o primeiro, honra lhe
seja concedida, que já confunde os traques com os discursos. Os seus. Desta vez,
o traque saiu‐lhe pelo local de onde deveria ter saído o discurso! Ou seja e
desculpar‐me‐ão a grosseria linguística, em vez de falar, “cagou‐se”. Para o povo
português. Lamentavelmente.
Outro exemplar destes políticos que fazem as delícias de um cronista é Cavaco
Silva. Cavaco está politicamente senil. Soletra umas solenidades de circunstância,
meia‐dúzia de banalidades e, limitado intelectualmente como é, permanece
“amarrado à âncora da sua ignorância”. Só neste contexto se compreende o
espanto expresso publicamente com “o sorriso das vacas”, as lamúrias por uma
reforma insuficiente de 10 mil euros mensais, a constante repetição do “estou
muito preocupado” e outros lugares‐comuns que fazem deste parolo de
Boliqueime uma fotocópia histórica de Américo Tomás, o almirante de Salazar. Já
o escrevi aqui várias vezes. Na cabeça de Cavaco reina um vácuo absoluto. Pelo
que, quando fala, balbucia algumas baboseiras lapalicianas reveladoras de quem
não pode falar do mundo complexo em que vivemos com a inteligência de um
homem de Estado. Simplesmente porque não a tem. Cavaco é uma irrelevância
de quem nada há a esperar, a não ser afirmações como a recentemente proferida
aquando das comemorações do 5 de Outubro de que “o futuro são os jovens
deste país”! Pudera! Cavaco não surpreenderia ninguém se subscrevesse por
exemplo a afirmação do Tomás ao referir‐ se à promulgação de um qualquer
despacho número cem dizendo que lhe fora dado esse número “não por acaso
mas porque ele vem não sequência de outros noventa e nove anteriores…” Tal e
qual.
Termino esta crónica socorrendo‐ me da adaptação feliz de um aforismo do
comendador Marques de Correia e que diz assim: “Faz de Gaspar um novo
Salazar, faz de Cavaco um novo Tomás e canta ó tempo volta para trás”. É que só
falta mesmo isso. Que o tempo volte para trás. Porque Salazar e Tomás já os
temos por cá.
P.S.: Permitam‐me a assumpção da mea culpa. Critiquei aqui violentamente José
Sócrates. Mantenho o que disse. Mas hoje, comparando‐o com esse garotelho
sem qualquer arcaboiço para governar chamado Passos Coelho, reconheço que é
como comparar merda com pudim. Para Sócrates, obviamente, a metáfora do
pudim. Sinceramente, nunca pensei ter de escrever isto.
Luís Manuel Cunha
Professor
In “Jornal de Barcelos” de 10.10.2012
Austeridade e privilégios
Publicado em
29-10-2012
Logo após surgir na Comunicação Social a informação de que
as escutas de conversas telefónicas entre o primeiro-ministro e um banqueiro
suspeito de envolvimento em graves crimes económicos tinham sido remetidas pelo
Ministério Público ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça para validação
processual a ministra da Justiça entrou em cena com a subtileza que lhe é
peculiar. Primeiro declarou que era preciso mexer na legislação sobre o segredo
de justiça (quando as vítimas das violações do segredo de justiça eram outras
ela dizia que a impunidade acabou) e logo de seguida "solicitou" à
Procuradoria-Geral da República que viesse ilibar publicamente o
primeiro-ministro e líder do seu partido, o que a PGR prontamente fez garantindo
não existir contra ele «quaisquer suspeitas da prática de ilícitos de natureza
criminal».
Sublinhe-se que, nos termos da lei
(artigo 87, n.0º 13 do CPP), "a prestação de esclarecimentos públicos pela
autoridade judiciária" em processos cobertos pelo segredo de justiça só pode
ocorrer a "pedido de pessoas publicamente postas em causa" ou então para
"garantir a segurança de pessoas e bens ou a tranquilidade pública". Uma vez que
nenhum dos escutados (PM e banqueiro) solicitou tais esclarecimentos, os mesmos
só podem ter sido "solicitados" e prestados com o nobre intuito de garantir a
"segurança" e a "tranquilidade" de todos nós. Mas a PGR foi mais longe e
informou que também "foi instaurado o competente inquérito, tendo em vista a
investigação do crime de violação de segredo de justiça". Não há como ser
zeloso!...
Num segundo
momento, a ministra da Justiça (que não chegou a vice--presidente do PSD pela
cor dos olhos ou dos cabelos) tratou, no maior sigilo, de tomar outras medidas
mais eficazes, prometendo aos magistrados que continuarão a usufruir do
privilégio de poderem viajar gratuitamente nos transportes públicos, incluindo
na primeira classe dos comboios Alfa. Para isso garantiu-lhes (sempre no maior
segredo) que o Governo iria retirar da Lei do Orçamento a norma que punha fim a
esse privilégio. O facto de o Orçamento já estar na Assembleia da República não
constitui óbice, pois, para a ministra, a função do Parlamento é apenas a de
acatar, submisso, as pretensões dos membros do Governo, incluindo os acordos
estabelecidos à sorrelfa com castas de privilegiados.
Mas, mais escandaloso
do que esse sigiloso acordo político-judicial é a manutenção para todos os
magistrados de um estatuto de jubilação ...que faz
com que," mesmo depois de aposentados, mantenham até morrer direitos e regalias
próprios de quem está a trabalhar. E ainda mais vergonhoso do que tudo isso é a
continuidade de privilégios remuneratórios absolutamente inconcebíveis num
regime democrático, sobretudo em períodos de crise e de austeridade como o atual
" !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!.......
O
primeiro-ministro, se ainda possui alguma réstia de dignidade e de
moralidade,
tem de explicar por
que é que os magistrados
continuam
a não pagar impostos sobre uma parte significativa das suas
retribuições; tem de explicar
por que é que recebem mais de sete mil euros por ano
como subsídio de habitação; tem de explicar por que é que essa remuneração está isenta de
tributação, sobretudo quando o Governo aumenta asfixiantemente os
impostos sobre o trabalho e se propõe cortar mais de mil milhões de euros nos
apoios sociais, nomeadamente no subsídio de desemprego, no rendimento social de
inserção, nos cheques-dentista para crianças e - pasme-se - no complemento
solidário para idosos, ou seja, para aquelas pessoas que já não podem
deslocar-se, alimentar- -se nem fazer a sua higiene
pessoal.
O
primeiro-ministro terá também de explicar ao país por que é que os juízes e os
procuradores do STJ, do STA, do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas,
além de todas aquelas regalias, ainda têm o privilégio de receber
ajudas de custas (de montante igual ao recebido pelos membros do Governo) por
cada dia em que vão aos respetivos tribunais, ou seja, ao seus locais de
trabalho.
Se o não fizer,
ficaremos todos, legitimamente, a suspeitar que o primeiro-ministro só mantém
esses privilégios com o fito de, com eles, tentar comprar indulgências judiciais
!!!...
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NÃO SE
ESQUEÇAM DE REENVIAR
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
domingo, 11 de novembro de 2012
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